Você está feliz?



Escrevo para compartilhar com vocês uma situação que aconteceu comigo aqui, logo nos primeiros meses em Sydney. Eu me sentia constantemente muito cansada, sem energia, sem disposição, com uma sensação horrível de que mais um dia viria em que eu teria que dar conta de tudo, inclusive do meu caos emocional.

Primeiro concluí que era a minha depressão ganhando mais força por conta da mudança de país e também do primeiro inverno mais severo que encarei na vida. Sim, dias chuvosos e frios por muito tempo têm um impacto inegável no nosso mundo emocional. Voltei para a terapia e para a acupuntura, mas ainda assim estava muito difícil.

No dia do meu aniversário, ficou evidente que eu precisava olhar com atenção para isso. Eu, que sempre amei festejar minha revolução solar, fiquei metade do dia embaixo da coberta sem ânimo para me levantar. Isso nunca havia acontecido comigo antes. Eu parecia um corpo sem alma. Sem vitalidade.

Fui lavar o rosto e meu filho de três anos me olhou fixamente e perguntou:

- Você está feliz?

Não sei nem explicar o tanto que essa pergunta mexeu comigo. Foi o que eu precisava ouvir para acordar.

Pensei: não estou feliz, não quero comemorar, só queria sumir. Mas, por ele, vou levantar o astral. Então tomei banho, ouvi música, arrumei a casa, sorri com amigos. Não quero que meu filho tenha de mim a lembrança de uma mãe identificada com a tristeza. Porque as pessoas que me conhecem sempre me associaram com alegria. E é assim que eu quero aparecer para ele. Esta é a foto que eu quero de mim.

Comecei a semana profundamente mexida e me lembrei de duas amigas que me sugeriram checar os níveis de ferro e de vitamina D. Eu estava tão focada em cuidar do mundo emocional que nem havia cogitado que algo poderia não estar em ordem no plano mais material do corpo. Nunca cogitei que poderia estar com deficiência de vitaminas. Ainda assim, resolvi checar.

Conversei com o clínico geral e expliquei que sentia um cansaço absurdo todos os dias e falta de energia. Eu dormia e acordava igualmente exaurida. Ele pediu para investigar ferro, vitamina D e também a vitamina B12. Fiz o exame de sangue e não deu outra. Os três estavam super baixos!

Entrei num tratamento de choque para suplementar, o que inclui injeção de B12 toda semana por um mês. Daqui a três meses repetirei os exames para ver se meu organismo absorveu esses nutrientes que estou suplementando.

Lá se vão duas semanas desde que comecei a tomar os remédios e as injeções. Posso dizer que meu humor melhorou consideravelmente e passei a ter infinitamente mais disposição. Se é efeito placebo eu não sei. Sei que passei a ter uma alimentação melhor, a fazer exercícios com regularidade e a me disciplinar para estar com o coração no lugar da minha escolha.

Fazer a escolha e estar na escolha. É isso. Estar com o pensamento e a energia vagando por lugares e situações em que você poderia estar é algo que consome muito da nossa vitalidade.

Eu estava no parquinho com o Lipe pensando que queria estar trabalhando, queria estar escrevendo, queria estar ganhando meu dinheiro, queria estar fazendo doutorado, queria estar no Brasil.

Agora, quando esses pensamentos aparecem, eu sopro feito dente-de-leão e digo para mim mesma:

- Eu queria estar aqui, neste parquinho, exatamente onde estou.

Corpo e mente se encontram. Eu e Filipe damos as mãos. E eu entendo com o coração, não só com a razão, que o mais importante deste momento da minha vida é estar por inteiro com ele.

Para todo o resto, tenho todo o tempo do mundo.



Comentários

  1. É isso aí, Dany, passei por isso muitas vezes, mas hoje entendo que eu fiz como você a única escolha que quis fazer e aprendi que como disse Clarice Lispector: Presente é estar presente. Você está sempre no lugar certo na hora certa... falta ter sempre consciência desta realidade. Beijo grande e obrigada por compartilhar você

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