Da falta que sinto de alguns espaços de solidão




Sete anos atrás eu defendi minha dissertação de mestrado. Me lembro dos tempos de leituras e escrita. E me pergunto se algum dia conseguirei tamanho mergulho em algo exterior depois da maternidade.

Lembro do ritual de escrita como hoje. Eu analisava a adaptação para cinema de Lavoura Arcaica. Então eu perfumava minhas mãos com óleo de sândalo, que me transportava para o universo da poesia. 


No som, a trilha sonora do filme, belíssima, me era outro meio de transporte. E assim eu mergulhava, escrevia, pertencendo também a um lugar que não era o lugar das coisas mundanas, das tarefas.

Era um lugar de solidão que me era muito importante acessar. Uma solidão construtiva.


E agora, rodeada sempre do meu filho e de uma exigida atenção sem pausa às coisas práticas, me pergunto se poderei exercitar a desimportância novamente.


É uma falsa questão, porque com ele eu exercito bastante a desimportância, o olhar para as pequenezas; brincamos de Manoel de Barros constantemente e isso me preenche.


Mas falo de uma solidão mesmo. De uma contemplação silenciosa e só que é vital para a minha alma, para as coisas que gosto de escrever, para a minha inspiração e meditação.


Disso sinto falta. Não vou mentir e dizer que a maternidade é um mar de rosas e que não me tirou nada.


Me tirou esse espaço, mas me ofereceu tantos outros tão incríveis que por muito tempo me senti culpada até de sentir falta da solidão.


Hoje eu queria meu perfume de sândalo e um som grave de violoncelo. Mas aí, no segundo em que eu me conectasse com seja lá qual o nome desse estado de graça, ouviria um: mamãããe!


E sairia dali para outro estado de graça, o do abraço do filho. Diferentes e não excludentes.

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