Maternidade e rotina de leitura: como conciliar?

Se você aí é viciada em livros como eu, certamente sentiu o baque que a chegada de um bebê traz ao nosso ritmo de leituras. Eu brinco que o tempo de mergulhos individuais acaba. Maternidade é doação: do nosso amor, do nosso alimento e também do nosso tempo. Consegue se imaginar exausta de noites não dormidas, cheia de dores e ainda com ânimo para pegar um livro? Pode até ser que você tenha o ímpeto, mas certamente lerá 10 páginas e ouvirá um choro, nem que seja imaginário. Eu senti muita angústia por isso.

A sensação era que nunca mais eu conseguiria ler um livro inteiro e de um tema que não fosse ligado à maternidade. Mas, vejam, eu trago boas notícias: o tempo passa e a gente consegue, sim, voltar a ler! Talvez não naquele esquema "um dia frio, um bom lugar pra ler um livro", mas é possível criar dinâmicas para fazer a leitura render.

Acho que a primeira coisa é ter paciência. Se você só está conseguindo ler trechos ou interrompe várias leituras no meio, aceite seu processo. Não vai ser assim para sempre. Talvez seja o caso de criar metas mais factíveis, livrinhos menores (e nem por isso menos densos), coisas de que você consiga dar conta sem gerar frustração.

Minha outra sugestão para que a rotina de leituras possa fluir é realmente investir em algo que te prenda. Não adianta insistir naquele livro que você pega toda noite e não consegue ler cinco páginas sem cair no sono. Se a leitura não te fisgou, não insista. Mude, tente outra história, até ser arrebatada.


A narrativa da Elena Ferrante é arrebatamento na certa!

É só um arrebatamento literário daquele dos bons que vai nos puxar do cansaço da maternidade para finalmente lermos um livro de fôlego inteiro.

Pode ser que você leve o dobro ou até o triplo do tempo que sua amiga sem filhos. Pode ser que você passe seis meses lendo. Tudo bem. Não se compare, seja doce consigo mesma. Eu levei seis meses para terminar o romance "Americanah", também da Chimamanda Adichie. E olha que eu estava amando o livro!

Uma coisa que funcionou bastante para mim foi tentar conciliar a leitura com outros raros momentos que eu teria para mim. Por exemplo: na hora de fazer exercício físico, eu escolhia a bicicleta da academia, que era o único onde eu conseguia ler sem ficar tonta ou me acidentar (já falei que eu sou o Charlie Brown das academias? Pois é. Inadaptada que só vendo!). Super funcionou, nos dois sentidos. A leitura avançava bem e, de quebra, eu conseguia ficar mais de meia hora num aparelho sem ver o tempo passar (em geral, o tempo corre ao contrário e é uma tortura).

Fiquem tranquilas. O momento de voltar a ler com gosto e concentração vai chegar! Para mim, aconteceu somente quando meu filho tinha 2 anos e meio, mas engatou mesmo depois que ele fez 3. Vocês podem começar com boas leituras ligadas à maternidade, já que é um tema no qual estamos submersas mesmo, e daí vão aquecendo para outras histórias.

Aqui vão as obras que fizeram parte da minha jornada de volta à leitura:


1) "A maternidade e o encontro com a própria sombra"- Laura Gutman. 


Gostoso de ler e extremamente profundo, traz uma abordagem mais holística da maternidade, longe de regras e fórmulas. O foco é no universo emocional da díade mãe e bebê. A autora mostra como muitas vezes um sintoma que o bebê apresenta é, na verdade, algum aspecto não trabalhado da sombra da mãe. Um verdadeiro jogo de espelhos. E entender esse jogo é super importante, por isso recomendo fortemente o livro.

2) "Crianças francesas não fazem manha" - Pamela Druckerman




Este é uma leitura mais leve, ótimo para ler um pouquinho a cada dia antes de dormir. Sabe aquele livro que você não tem que ficar pensando muito e que é divertido? Esse foi bem assim para mim. A autora, uma jornalista dos EUA morando em Paris, começou a observar as diferenças de comportamento entre as crianças americanas e as francesas. Daí foi um pulo para ela tentar entender também o que os pais faziam de diferente. Entre impressões e conversas com especialistas franceses, ela traz algumas observações interessantes. Sugiro não ler pensando que esse ou aquele modelo é melhor. Apenas leia e veja o que pode ser interessante ajustar na forma como está se relacionando com seu bebê.

3) "Sejamos todos feministas" - Chimamanda Ngozi Adichie


Esse é um livrinho pequenino e precioso. Trata-se da resposta da autora a uma amiga que lhe escreveu pedindo conselhos sobre como criar uma filha feminista. A resposta dela veio em forma de 15 sugestões maravilhosas e extremamente necessárias. É tão gostoso de ler e tão pungente que dá tranquilamente para terminar em um ou dois dias, mesmo tendo uma criança pequena.

4) "Americanah" - Chimamanda Ngozi Adichie





Simplesmente viciante. A história de Ifemelu traz diversas questões prementes no mundo hoje: pertencimento, identidade racial, feminismo, cacoetes da vida acadêmica, o mundo dos bloggers, desigualdade social etc. O fato de Ifemelu ser uma estrangeira que narra a partir deste lugar (ela é uma imigrante africana nos Estados Unidos) me tocou bastante, naturalmente. A história é muito, muito bem contada. Recomendo sem pestanejar!

5) "A filha perdida" - Elena Ferrante



Outro livro viciante e super rápido de ler. Por trás da narrativa fluida da autora, existe uma história extremamente densa, que oferece milhões de insights. A história é narrada pela protagonista Leda, que passa a limpo as escolhas que fez ao longo da maternidade, essa condição que carregamos para toda a vida. Seremos sempre mães. As escolhas, as renúncias, as frustrações. Está tudo ali, vivo, e todo esse material psíquico fortíssimo é disparado por uma situação aparentemente banal vivida numa praia de Nápoles. Acho que todo mundo que é mãe deveria ler. Quem é filho também. Ah, todo mundo deveria ler e ponto!

Bom, é isso, minha gente. O post já está ficando grande demais. Desliguem os celulares, encontrem um momento de respiro e boa leitura! Depois contem aqui nos comentários como está a rotina de volta aos livros :)





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