Primeiros meses em Sydney: dificuldades de adaptação



É começo de junho, o que significa que já estamos há quatro meses morando na Austrália. Sei que tenho escrito pouco. É que a vida aqui não me deixa muito tempo livre. Explico: nas Filipinas, nós tínhamos o luxo de contarmos com uma babá maravilhosa, a Elvie, que me ajudava também com as coisas da casa. É o que eles chamam, em inglês, de all-around helper. Aqui, a mão-de-obra é caríssima e fica impossível contar com essa ajuda.

Não é que tenha sido difícil me adaptar a essa vida, afinal minha família parou de contar com ajuda em casa desde que eu era adolescente. Então colocar a mão na massa não é exatamente um problema para mim. O difícil é fazer tudo isso quando você está emocionalmente exaurida por conta de uma mudança e as adaptações inerentes. É aquela velha metáfora: se o seu interior está abandonado, você começa a abandonar também o espaço exterior.

As pilhas de louça que se multiplicavam passaram a aparecer para mim como um monstro impossível de vencer. O mesmo para o cesto de roupa suja e os armários a organizar. Eu me sentia sem forças diante dos brinquedos espalhados pela casa. Me sentia sem forças para disciplinar meu filho, que demonstrava sinais de agressividade quando eu o repreendia por algum motivo. Entre tantos sentimentos, ainda havia espaço para a culpa por me sentir assim, afinal era mimimi e tinha gente em situação muito pior que a minha. Comecei a desconfiar que estava deprimida. Então o primeiro passo foi buscar uma terapia.

Com o terreno mais estabilizado para mim, passei a ter condições de olhar com mais lucidez para o que estava se passando com o pequeno. Era óbvio que a adaptação estava difícil para ele. Lipe sentiu bastante a diferença de temperamento em relação às crianças australianas, que são, digamos, mais duronas. Elas tomavam os brinquedos dele, diziam "não" de forma incisiva quando ele perguntava se podia brincar e por aí vai. Ele ficava acuado, sem saber como reagir, buscando proteção em mim.

Acho que tudo isso contribuiu para que ele projetasse em casa talvez a agressividade que não estava conseguindo botar para fora na rua. Eu era frequentemente o alvo. E dá-lhe jogar brinquedos, fazer birra e até querer me bater :(

O segundo passo, nesse processo dolorido, foi buscar uma psicóloga para ele também, que pudesse nos orientar sobre como fazer essa travessia da melhor forma. A primeira sessão foi comigo e somente na segunda ele foi. A partir daí, ela marcou mais alguns encontros comigo para dar orientações pontuais, afinal a questão não era difícil de resolver.

Sabem qual foi a primeira coisa que ela me falou?

Cuide de você.

Esteja bem e feliz, porque esse é o primeiro passo para que seu filho esteja emocionalmente saudável.

Cá estou, neste inverno glacial, buscando a serenidade com terapia e acupuntura. Os primeiros passos já foram dados. E, como diria Chico Science: um passo e você não está mais no mesmo lugar.

No próximo post, vou falar sobre as orientações que a psicóloga me deu para lidar com essas dificuldades no comportamento do Lipe. São dicas simples, mas que exigem bastante comprometimento dos pais, principalmente no sentido de observarem a si mesmos.

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